quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

jus ao título


Não são só as páginas que rumam à deriva! O tempo, esse estranho dono, continua a fazer-me partidas! E tantas e tão profundas que, cada vez mais, o sentir-se à deriva é um estado permanente. Até quando?



O MENINO GRANDE

Também eu, também eu,

joguei às escondidas, fiz baloiços,

tive bolas, berlindes, papagaios,

automóveis de corda, cavalinhos…


Depois cresci,

tornei-me do tamanho que hoje tenho;

Os brinquedos perdi-os, os meus bibes

deixaram de servir-me.

Mas nem tudo se foi:

ficou-me,

dos tempos de menino,

esta alegria ingénua

perante as coisas novas

e esta vontade de brincar.


Vida!

não me venhas roubar o meu tesoiro:

não te importes que eu ria,

que eu salte como dantes.

E se riscar os muros

ou quebrar algum vidro

ralha, ralha comigo, mas de manso…


(Eu tinha um bibe azul…

tinha berlindes,

tinha bolas, cavalos, papagaios…

A minha Mãe ralhava assim como quem beija…

E quantas vezes eu, só p’ra ouvi-la

ralhar, parti os vidros da janela

e desenhei bonecos na parede…)


Vida!, ralha também,

ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,

como se fosse a minha Mãe.


Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo (séc. XX).

1 comentário:

Maria Sobral disse...

Como eu gostaria de sentir este poema como meu!