Não são só as páginas que rumam à deriva! O tempo, esse estranho dono, continua a fazer-me partidas! E tantas e tão profundas que, cada vez mais, o sentir-se à deriva é um estado permanente. Até quando?
O MENINO GRANDE
Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos…
Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho;
Os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino,
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida!
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso…
(Eu tinha um bibe azul…
tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios…
A minha Mãe ralhava assim como quem beija…
E quantas vezes eu, só p’ra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede…)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse a minha Mãe.
1 comentário:
Como eu gostaria de sentir este poema como meu!
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